Opinião

Paulo Afonso (BA) - 18/03/2011

Turismo, porque se tem tanto e não se tem nada?

Antônio Galdino da Silva
Divulgação

Há anos, muitos anos, apaixonado pelas belezas que nos rodeiam em Paulo Afonso e na Região dos Lagos do rio São Francisco tenho defendido uma ação mais efetiva dos governos e dos empresários para que toda essa riqueza se transforme em geração de emprego e renda para a população local e regional, com toda a segurança da garantia da sustentabilidade.
Fui um entusiasta pela criação do Comlagos, uma espécie de consórcio de prefeituras da Região dos Lagos do São Francisco. Foram várias as oportunidades de discussão com a participação ativa do Instituto Xingó, através de sua área temática de Turismo e Hotelaria. Chegou a ser aprovada a criação de um escritório regional da Embratur, que então cuidava do turismo doméstico e hoje se dedica ao internacional e outro do Sebrae Nacional.
Depois, com a chegada das eleições municipais, cada prefeito preferiu olhar para o seu próprio umbigo e a iniciativa perdeu fôlego até receber o golpe fatal quando o Instituto Xingó ou a Chesf, que o mantinha/mantém, extinguiu a área temática de Turismo e Hotelaria.
Localizada na região de fronteira com os Estados de Pernambuco, Alagoas e Sergipe, Paulo Afonso, na Bahia, sempre foi tratada sem nenhuma prioridade pelos governos baianos, mesmo quando coincidia de governador e prefeito serem aliados.
Levamos muitos anos sofrendo com a ausência de estradas para a capital baiana, que agora estão boas, mas o descaso com a BA-210 continua e a licitação já fez um ano. Enquanto isso, os governos de Alagoas, Sergipe e Pernambuco estendiam seus tapetes negros cortando a caatinga e o litoral em direção às suas cidades turísticas e suas praias.
O governo do Estado de Sergipe descobriu que possuía pouco a oferecer como atrativo turístico a não a bela orla sergipana, alguma cidade histórica e o lago de Xingó, formado pela barragem da Hidrelétrica em 1995. E cedeu os catamarãs de propriedade do Estado para a exploração desse potencial levando os turistas para conhecerem o “cânion do Talhado” que fica no Estado de Alagoas ou, em outra rota, até Mangue Seco, que fica na Bahia e deu uma repaginada legal em toda a orla sergipana.
Estado pequeno, de poucos atrativos, dinheiro foi o que menos faltou nesses últimos anos. Só em 2010, o governo Lula destinou 100 milhões de reais para serem investidos no turismo do aconchegante Sergipe administrado pelo amigo Déda.
Aí, aparecem alguns oportunistas e críticos de plantão, ou seja, para eles, o importante é criticar, falar mal, mesmo sem conhecimento de causa. Pois bem, esses começam a fazer cobranças e comparações de Paulo Afonso/BA com Canindé do São Francisco/SE, por exemplo.
E não custa perguntar: Como seria a região se a Chesf, empresa estatal que tem mais de 80% de sua receita líquida, que foi de mais de 1,5 bilhão em 2010, gerada no complexo hidrelétrico de Paulo Afonso, reativasse a área de Turismo e Hotelaria de Xingó ou investisse diretamente alguns milhões dessa excepcional receita em investimentos em Paulo Afonso, e Região dos Lagos, municípios que ficam num raio de cerca de 80 quilômetros de Paulo Afonso?
Concordo com um articulista de site pauloafonsino que questionou a existência de tanto potencial, há tantos anos e ficamos nesse “marcando o passo”, sem sair do lugar, sem transformarmos todo esse potencial em produtos turísticos e o que vemos é a perda, a cada dia de mais atrativos. Foi-se a Cachoeira de Paulo Afonso e um projeto para transformá-la em cachoeira programada, como já existe na China e em outros países, mesmo sendo avaliado pela Agência Nacional das Águas, encontrou a barreira do ONS, onde, vestidos de armaduras intransponíveis estão os defensores dos poucos megawatts que deixariam de ser gerados.
Uma queda de bloco de pedra no morro do teleférico nos privou de um produto turístico pronto e acabado, cartão postal da cidade, o Bondinho, flutuando sobre o cânion entre os Estados da Bahia e Alagoas, a 100 metros de altura. E lá se vão quase dois anos...
E o Modelo Reduzido, os Lagos, como o do Touro e Sucuri que estão nesse estado deplorável, o que dizer?
Talvez muitos não saibam que em Dezembro de 2002 a Chesf celebrou um convênio com a Prefeitura de Paulo Afonso e repassou para a gestão do município todo o Acampamento da Chesf, com quase 2 mil casas, colégios, hospital, campo de futebol, dezenas de praças, o Belvedere, e com o compromisso  da Prefeitura asfaltar de suas muitas ruas, além da manutenção específica dos seus belos lagos. Para isso, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco repassou à Prefeitura cerca de 1 milhão e 200 mil reais por ano, apenas nos três anos seguintes da gestão do Prefeito Paulo de Deus, de 2001 a 2003.
Portanto, coube às gestões de Raimundo Caires, de 2005 a 2008 e a de Anilton Bastos, a partir de 2009 continuar fazendo toda a manutenção do Acampamento da Chesf, recuperação das praças, jardins, ruas, asfalto, fazer a coleta regular do lixo e todas as outras ações do restante da cidade, sem esta receita extra vinda dos cofres da empresa hidrelétrica.
Talvez seja importante saber que projeto como o Ecoturístico do Rio do Sal, feito pela Prefeitura de Paulo Afonso no início de 2009, para aproveitar as verbas de emendas da Deputada, hoje Senadora Lídice da Mata, se arrastam há mais de dois anos entre os gabinetes do Governo do Estado e do Ministério do Turismo.
Desencantado vejo que “o buraco é mais em cima”. Estava em Brasília no final do ano, para receber um Relatório de Competitividade do município, incluindo entre os Indutores de Turismo pelo Ministério do Turismo e acompanhar o lançamento de programas para 2011 e a nova classificação de hotéis, quando se soube que o novo Ministro do Turismo era um deputado do Maranhão, de 80 anos, ex-Arena, hoje PMDB, indicado por José Sarney, totalmente desconhecido pelos que atuam no turismo no Brasil, mas logo conhecido, nacionalmente, como “o Ministro do Motel”, depois de reportagem da imprensa paulista, e novamente virou notícia porque seu primeiro ato como ministro foi requerer passaporte diplomático para a esposa, segundo informaram os periódicos.
Agora, no final de fevereiro de 2011, a presidente Dilma Rousseff, na necessidade premente de governar, corta 50 bilhões do Orçamento Geral da União de 2011.
E, como anunciou a ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior:
  “O Ministério do Turismo foi a pasta com o maior corte orçamentário em termos percentuais, no que se refere às despesas discricionárias, tendo perdido 84,4% do que foi inicialmente previsto para 2011 para os gastos com diárias, passagens, compra de material, contratação de serviços etc. De R$ 3,655 bilhões, a pasta ficou com R$ 573 milhões.”
Outra notícia, esta originada da Agência Estado e publicada nos maiores veículos de comunicação do país no dia 8 de março de 2011, mostra a situação do Brasil, em relação a outros países: é o 52º dos 139 avaliados.
“Apesar de ser considerado o País com a maior riqueza natural do mundo, o Brasil não consegue ser competitivo na indústria de turismo e perde espaço para outras nações.
Problemas de infraestrutura, regulação, violência, falta de mão de obra qualificada e ausência de investimentos acabam se sobrepondo às vantagens das belezas nacionais. É o que mostra o ranking sobre a competitividade no setor divulgado ontem pelo Fórum Econômico Mundial.
O Brasil desbancou todos os 139 países analisados e marcou o primeiro lugar no quesito de riqueza natural, principalmente pela diversidade de espécies animais existentes, com a fauna mais rica do mundo, além do número de lugares considerados patrimônios da humanidade, da quantidade de áreas protegidas e da qualidade do meio ambiente.
Entretanto, ficou apenas com o 52.º lugar na classificação geral do ranking de competitividade no turismo deste ano, perdendo sete posições na comparação com o levantamento anterior, realizado em 2009 - apesar de ter mantido praticamente a mesma nota” (As informações são do jornal O Estado de S. Paulo, A TARDE e outros)
E fico matutando sobre a pergunta que me fez o Professor Doutor Xavier, professor do Curso de Doutorado em Turismo na Europa ao me argüir na minha defesa de Mestrado. “Porque vocês têm tanto e não têm nada?”.
    Convém que se analise o assunto com a seriedade que ele requer. Levando-se em conta esses dados apresentados, buscando ser parceiros de uma caminhada cujo resultado positivo vai ser bom para todos, para o município, seus moradores, independentes da cor partidária que possuam.
    Talvez seja o momento, já que todos parecem querer ser padrinhos desta boa causa, de se perguntar:
Porque o Projeto do Rio do Sal está há dois anos sem solução no Governo do Estado?
Porque a Chesf, com tanto dinheiro em caixa há tanto tempo, (agora na Eletrobrás) não assume a revitalização dos Lagos?
Porque o Governo do Estado não fez ainda a reforma da Rodoviária, anunciada nas vésperas da eleição de 2010?
Porque o Governo do Estado não recupera a estrada BA-210, trechos SE/BR-110 e PRF/Aeroporto? cuja licitação já fez um ano?
Porque o Projeto do Plano de Visitação do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso está, segundo a Chesf, há mais de dois anos nos gabinetes do IBAMA, em Brasília?
Porque o Bondinho, produto turístico pronto e acabado, já está há dois anos sem funcionar?
Porque não se pode ter em Paulo Afonso a Cachoeira Programada?
Porque o Modelo Reduzido não volta a ser mais uma atrativo turístico?

Será que estes recentes defensores do turismo em Paulo Afonso têm resposta para estas inquietantes perguntas?


Antônio Galdino da Silva – Professor graduado em Letras; Especialista em Turismo pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB; MBA em Gestão Pública e Empresarial com ênfase em Política e Estratégia, pela Faculdade Baiana de Ciências- FABAC/Associação Baiana de Ensino Superior e Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra – ADESG; Mestre em Ciências da Educação (Área de Empregabilidade – Turismo) pela Universidade Internacional de Lisboa-Portugal;


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