Os bancos gastaram uma fortuna em propaganda, oferecendo pela televisão aos endividados – que elegantemente chamam de “negativados” – novos empréstimos para que caiam na folia, mesmo que já estejam atolados até o pescoço em dividas impagáveis que acabam lhe levando a casa, o carro e tudo o mais. O mundo admira a alegria contagiante dos brasileiros no que se refere a fesats e futebol. E pensa estar diante do povo mais feliz do mundo. Toda essa multidão parece mesmo estar vivendo num paraíso tropical. Não percebe que a inflação está crescendo, corroendo-lhe os salários, que a divida interna se conta na casa dos trilhões e a externa já beira a totalidade das nossas divisas. Não vê que os preços estão subindo na feira e no supermercado, a escola dos filhos não tem qualidade, pessoas morrem por falta de assistência médica na rede pública de saúde, as estradas, os portos, as ferrovias, tudo está sucateado. E com a violência e a criminalidade tomando conta do país, ajudadas por um exército de bandidos mirins, que recebem da lei o direito de matar, roubar, estuprar, seqüestrar com a garantia de que não serão punidos. Ninguém se lembra de que políticos que elegeu estão roubando o seu dinheiro e se omitindo diante dos mais graves problemas nacionais. O grave de tudo isso é que essa amnésia coletiva não se apresenta apenas durante os poucos dias do Carnaval. Ela é permanente. Na quarta-feira todos esse povo acordou e vai viver o resto do ano, e os próximos, com a mesma indiferença diante do quadro que emoldura os nossos 200 milhões de cidadãos. Em outubro, quase todos irão às urnas para eleger de novo os maus políticos questão aí. Mesmo conhecendo a ficha de cada um. E viva o povo brasileiro!