Opinião

Paulo Afonso (BA) - 24/07/2013

Artigo: Aspectos cultural, financeiro e moral das festas de São João e Copa Vela

Por Luiz Brito DRT/BA 3.913
Foto reprodução

Seria mais sensato para a prefeitura de Paulo Afonso  entregar  essas festas à iniciativa privada, resguardando o dinheiro  do contribuinte para ser investido em itens realmente necessários à população.
Diante de tantos comentários acerca da realização da festa de São João e Copa Vela  em Paulo Afonso, uns a favor e outros contra, resolvi chamar a atenção da sociedade para uma reflexão sobre os vários aspectos que envolvem estes  eventos: O cultural, o financeiro e o moral.
A princípio, o São João é sem sombra de dúvidas a maior festa popular do nordeste e sua realização é fundamental para o fortalecimento da cultura do nosso povo, se bem que as comemorações contemporâneas distorcem completamente do lado religioso que deu origem à festa havendo, portanto, apenas uma maior valorização do lado profano.
Com o passar dos anos, especificamente aqui no nordeste, o estilo musical forró foi se firmando como o ritmo característico da festa profana. O saudoso Rei do Baião, Luiz Gonzaga, Trio Nordestino e agora Dominguinhos,  por exemplo, consolidaram o forró nesta época junina, fazendo com que várias gerações associassem o ritmo à festa.
Em um passando não tão distante, as festas de São João eram marcadas pela confraternização entre as pessoas que se reuniam para celebrar a data regada a muito forró pé de serra, comida típica,  quadrilhas na Ruy Barbosa, Castro Alves, Rua D, da Mama Vitória, só pra citar algumas  e a tradicional fogueira.
Até a década de 80 a festa tinha esta característica de unir as pessoas sem onerar os cofres públicos, ou seja, as prefeituras não gastavam o dinheiro público com essa finalidade. Existiam, sim, as festas de salão nos clubes, boates, onde quem pagava pelo evento era o povo, e não as prefeituras, e todo mundo dançava e se divertia sem reclamar.
Esse é um ponto que eu gostaria de frisar, ou seja, a festa é muito importante, mas poderia muito bem ser bancada por empresas privadas, promotoras de eventos, como acontece no município de Curaçá-BA, na festa dos vaqueiros. Lá o município realiza o evento, mas as pessoas têm que pagar, e nem por isso o povo deixa de participar. Outro exemplo é o Forró do Esfrega, em Senhor do Bonfim-BA, onde tudo é pago e mesmo assim os três dias da festa são lotados.
Imaginem os senhores: a estimativa de público aqui em Paulo Afonso, por noite no chamado São João da Família, ou mesmo na Copa Vela é de 30 mil pessoas. Se a prefeitura vendesse o evento a uma empresa privada e fixasse, por exemplo, o valor da entrada em 10 reais, um valor que todos podem pagar, sabe quanto essa empresa estaria faturando por noite? A conta é simples. É só multiplicarmos 30.000 x 10. Sabe quanto dá? Um faturamento de 300 mil reais por noite! Tá vendo só? O valor da entrada seria acessível, a prefeitura não precisaria gastar o dinheiro público, muito pelo contrário, iria era ganhar com a terceirização do evento, e a festa teria o mesmo brilho. É uma questão de bom censo e seriedade. E o exemplo serve para todos os municípios.
Repito, é uma questão de consciência, pois não podemos admitir que mesmo havendo a justificativa de que o dinheiro não sai dos cofres da prefeitura, que vem de Brasília ou Recife, não importa, é dinheiro público do mesmo jeito – seja do governo federal, estadual ou municipal. Tudo sai do nosso bolso em forma de impostos, taxas, multas etc. Dinheiro que poderia ser usado para atender outras áreas prioritárias e deficientes em todo o país, como é o caso da saúde, educação e segurança.
E para não ser mal interpretado, quero deixar bem claro que não estou culpando aqui o prefeito Anilton Bastos Pereira  ou qualquer outro gestor pela prática questionável de realização de festas, pois a culpa mesmo é do sistema que aí está, das leis que aí estão. Agora, vai da consciência de cada um realizar ou não a festa e gastar milhões, vai da consciência de cada um avaliar de forma lúcida e independente a magnitude do dinheiro que é gasto com bandas e estruturas, quando o povo passa por necessidades básicas como a falta de medicamentos em postos de saúde ou a falta d’água para o consumo humano, como acontece em outros municípios do Nordeste que ainda continuam sofrendo os efeitos da seca. É o caso de Paulo Afonso, que já anuncia a super Copa Vela, enquanto vozes do além chamam o povo pru “Vem Pra Rua” cobrando entre outra cositas más, as melhorias prometidas em campanha.
Essa é uma reflexão que precisa ser feita por todos, sobretudo pela nossa juventude que está agora dando uma aula de democracia, indo às ruas cobrar mais seriedade dos gestores na melhoria da prestação dos serviços públicos e na correção de suas atividades.
Então, se realmente queremos ter um país sério e mais justo, não podemos aceitar, em hipótese alguma, que o dinheiro público seja jogado fora em detrimento do sofrimento do nosso povo, pois os dias de festa se vão e os problemas continuam.
E por fim, vamos falar sobre a questão da moralidade. Existem aqueles que se apropriam da frase “rouba, mas faz” para tentar justificar o injustificável. Após a realização dessas festas é comum acompanharmos denúncias de superfaturamento na contratação de bandas e estruturas utilizadas nesses eventos como palco, iluminação, barracas etc.
Ora, se há indício de desvio de dinheiro público, tem de haver uma explicação à população, as pessoas não devem e não podem ficar hipnotizadas apenas pela grandeza dessas festas. Temos todo o direito, enquanto cidadãos, de saber qual o custo real desses eventos e de que forma esse dinheiro foi aplicado. Isso é transparência. Acredito até mesmo que o Ministério Público, que foi respaldado pela população nestas manifestações, tem que tomar pé dessas questões e investigar a fundo a veracidade ou não das denúncias, seja onde for, para que no mínimo a sociedade tenha uma resposta.


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