A noite desta quarta-feira, 21, foi especial para os integrantes do Grupo de Teatro Raízes Nordestinas. Eles, que são da zona rural de Poço Redondo, no sertão sergipano, dedicam-se a arte há 10 anos e mudaram a rotina daquela cidade com suas peças educativas e que muitas vezes retratam a realidade social da população.
Esta é a segunda vez do grupo no Festival de Teatro. Em 2011, a trupe fez uma divertida apresentação na praça Fausto Cardoso com o espetáculo "A megera domada" e começou a se mostrar para o mundo cênico em Sergipe. Desta vez, com mais experiência e presença de palco, o grupo tomou o TTB e mostrou que o sertão sergipano tem teatro de qualidade para apresentar.
"Começamos com um grupo de jovens no ano 2000 e montamos nossa primeira peça embasada na problemática do alcoolismo. A montagem foi um sucesso e decidimos que queríamos seguir no meio artístico" explicou Rafaela Alves, que faz parte da direção do grupo. Para ela, a decisão foi acertada e hoje o grupo já conta com 30 pessoas, entre os veteranos e os adolescentes dos cursos ministrados pela trupe.
"Muitas coisas foram acontecendo e fizeram nós nos entendermos não só como grupo de teatro, mas como jovens que fazem parte de um processo de formação com a juventude e que tem o papel de organizá-la em torno da arte e da cultura popular", completou a jovem atriz Ramielli Rafael, que também é do corpo diretório do grupo.
O espetáculo da vez foi "Os Corumbas", uma obra de retrata a saga da família Corumba, que começa sua trajetória no início do século XX, período em que a seca deixa marcas de sofrimento na face do povo nordestino. Com uma linguagem simples, marca do autor sergipano Amando Fontes, a narrativa se desenrola com a família indo morar na capital, Aracaju, e passam a perceber diferenças nos seus valores culturais, principalmente no que se refere aos princípios do casamento.
O espetáculo, que tem no elenco Altair Soares, Rafaela Alves, Jaqueline Araújo, Ramielli Rafael, Vanessa dos Anjos, Suely dos Anjos, Temístocles Caldeira, Fábio Santos e Cícero dos Anjos, foi emocionante do início ao fim e com toques musicais que remetiam o público a realidade do Brasil sertanejo. "Os Corumbas foi nossa escolha para a inscrição no edital por ser uma montagem de mais de três anos e por ser uma peça que retrata a realidade do povo brasileiro", observou a atriz Ingracia Couto.
Reconhecimento
A história do grupo Raízes Nordestinas é emocionante. O grupo está vencendo as dificuldades do sertão e conseguindo se inserir no meio artístico de Sergipe e do Brasil. A trupe está no Festival Sergipano de Teatro após conquistar o Edital lançado pela Secretaria de Cultura, o segundo, já que em 2010 o grupo circulou por Sergipe através do Edital César Maceira, também da Secult. Além deles, o Raízes Nordestinas se apresentou em algumas partes do país através do Sebrae, com a peça "A cabra e o consórcio do bode".
Momentos antes da apresentação, a sensação era de ansiedade, mas com um sentimento sincero de reconhecimento. "A gente esperou por isso dez anos. Infelizmente os grupos do interior nunca foram valorizados para chegar a esses espaços que na verdade são nossos. Por isso para nós é muito bom estar aqui", descreveu Rafaela.
"Estar hoje aqui nada mais é que uma longa estrada que percorremos. Uma conquista que fomos construindo aos poucos e para nós a Secretaria de Cultura está sendo fundamental nisso tudo, afinal, ela está oferecendo oportunidades para grupos do interior", ressaltou Ramielli.
Surpresa para o público
Para o público, que mais uma vez compareceu em peso ao TTB, o grupo do Raízes Nordestinas é uma grata surpresa do II FEST. "Não conhecia o trabalho deles, mas gostei muito. Eles trabalham com fotografias e isso é muito bacana e uma parte do teatro que me interessa muito", notou o ator Jonathan Rodrigues, do grupo Boca de Cena. "Está havendo muitas oficinas com pessoas importantes da cena teatral, debates, e nisso ainda somos muito carentes. Por isso é muito bom ver que estamos tendo este espaço aqui", complementou.
Já o ator Cícero Júnior, do grupo A Tua Lona, descreveu o espetáculo como surpreendente. "Não esperava um grupo tão bom e que é aqui do interior. Desconhecia o trabalho deles, mas valeu muito a pena ter vindo aqui", argumentou. Para o jovem o Festival é uma iniciativa fundamental para cena e principalmente para a criação do público para teatros sergipano. "E isso deve ocorrer não só no período do evento, mas além dele, afinal, durante todo ano estamos tendo apresentações por Sergipe a fora", frisou.
Realização
O II Festival Sergipano de Teatro é uma realização do Governo de Sergipe, através da Secretaria de Estado da Cultura, e Instituto de Artes Cênicas de Aracaju (IACEMA). Tem patrocínio do Ministério da Cultura, via Lei Rouanet, e co-patrocínio do Banco do Estado de Sergipe (Banese). O evento conta também com o apoio cultural da Prefeitura de Aracaju, Fundação APeripê, Hotel Del Canto, Banco do Nordeste e Sesc. Colaboram com o II FEST o Sated/SE e o Fórum Unificado de Circo, Dança e Teatro.