Opinião

Paulo Afonso (BA) - 12/04/2011

Não mudo de opinião - Por Dr. Pimenta

Dr. Pimenta é Empresário, professor e jornalista

Quanto mais me informo sobre a política e os que fazem dela um meio de vida, mais se consolidam em mim certos sentimentos. Se busco desmerecer deles, não tenho como evitar dirigi-los a terceiros cuja existência não posso ignorar. Uns, porque se nutrem da pobreza alheia para construir carreiras que, fossem críveis os pretextos, dir-se-iam políticas. O que são, na realidade, é a entrega absoluta à formação de fabuloso patrimônio, raramente adequado aos padrões de honestidade e lisura que deveria orientar tais agentes públicos. Mas não são apenas os políticos que despertam em mim os sentimentos que adiante identificarei. A eles se alia uma coorte de outros profissionais, de alguma forma e em algum momento intimamente relacionados. A identidade de propósitos e de ethos aproxima-os e torna-os cúmplices. Daí a razão de merecerem de mim a mesma consideração, traduzida nos sentimentos que me despertam. A princípio, poderiam muitos pensar que sou dotado de ódio e esse seria o primeiro sentimento de que trato. Enganam-se, porém, os que me pensam irado diante dos fatos a que assisto e que milhares de outras pessoas também assistem. O ódio é sentimento mau. Nada produz, seja quanto ao aperfeiçoamento moral de quem o detém, seja em relação à superação da fraqueza do que o motiva, digo isso, ainda indignado, com o espetáculo de alguns desses políticos, na visita do secretário Luiz Aureliano à Câmara Municipal. Alguns imaginariam que sou tomado de intenso e imenso desprezo pelos maus políticos e sua coorte de incensadores. Novamente incorrem em equívoco. Impossível dar de ombros ou virar as costas a esses denegridores da espécie humana. Isso equivaleria a contrariar o próprio processo histórico que a todos nos envolve, quando é certo o lugar que ocuparão na história, ainda que em seus porões ou nos mais pútridos esconderijos. Sempre que vejo o movimento ágil de ratos em busca de algum alimento, no lodaçal dos canais, meu estômago convulsiona-se. Sinto propensão ao vômito, como se isso bastasse para superar meu mal-estar. Sei que não será isso o bastante para tanto. Sei, porém, que o desfecho, o ato de vomitar aliviará meu desconforto. Esse sentimento que me leva a devolver o que antes me fortalecera o corpo, reequilibra meu espírito, afrontado pelo testemunho da podridão posta à minha vista, nua e crua. Chamo-o de nojo. Pois é isso que sinto, diante dos fatos testemunhados. Já sei da virtualidade de chegar à desidratação completa, tantas vezes serei levado ao baldeamento. De minha parte, contudo, continuarei tentando evitar a desidratação iminente. Quando avanço em minhas reflexões, comparo os atos dos maus políticos e dos que se dependuram neles ao que seria exigível de todo ser humano. Não digo do homem de bem, porque entendo implícita no conceito de ser humano as noções de bondade, generosidade, moralidade, solidariedade e respeito. Assim, há apenas o homem e, convivendo com ele, muitas vezes em suspeita promiscuidade, os que se pensam na mesma condição. Pobres de espírito (não importa o tamanho de seu patrimônio, quase sempre correspondente à extensão de sua desumanidade), não alcançam sequer a razão de estarem no mundo. Minhas reflexões conduzem-me, então, ao outro sentimento, de que jamais reivindicarei merecimento: a pena. Enquanto outro tipo de pena, aquele que se refere às leis de uma ciência criada por Caesare Lombroso, não for aplicada, contenta-me desferir o dardo sentimental.

 


Busca



Enquete

Adiquirindo resultado parcial. Por favor aguarde...


Todos os direitos reservados