A última reunião do diretório do PT da Bahia no ano, que aconteceu nesta sexta-feira (13), na Assembleia Legislativa, foi marcada por críticas duras à decisão do partido de apoiar a candidatura derrotada do vice-governador Geraldo Júnior (MDB) ao Palácio Thomé de Souza, em um clima que pareceu um ensaio da disputa pela presidência da sigla – a eleição interna acontece em julho de 2025. Só houve pacificação na aprovação de uma resolução em defesa da reeleição do governador Jerônimo Rodrigues (PT) e da necessidade de ampliar o diálogo com a sociedade.
Um dos objetivos da reunião foi justamente fazer uma avaliação do resultado eleitoral de 2024. Vários lideranças e militantes de correntes opostas à do atual presidente da sigla na Bahia, Éden Valadares, se manifestaram com críticas pesadas ao péssimo desempenho em Salvador, responsabilizando diretamente a escolha de Geraldo Júnior pela enfraquecimento da legenda na capital.
A avaliação feita por parte dos presentes é de que o governador Jerônimo Rodrigues (PT), o senador Jaques Wagner (PT) e os partidos aliados impuseram a candidatura do emedebista sem levar em conta o que pensava a maior parte dos petistas, que resistiu ao nome do vice-governador, visto como um político de centro e até de direita, sem qualquer relação com a esquerda e os movimentos sociais.
“Nossa opinião é que foi um desempenho ruim. Se não fosse a vitória em Camaçari no segundo turno, que deu um certo equilíbrio de forças entre nós e a oposição na Bahia, seria ainda pior. A grande derrota foi em Salvador. Um verdadeiro desastre, erro total de posicionamento. Até mesmo em tempos mais difíceis, tivemos um resultado melhor na capital”, disse a este Política Livre o advogado Edízio Nunes, integrante da Executiva estadual petista, responsável pela área de Relações Institucionais.
“Em 1988, tivemos Zezéu Ribeiro candidato a prefeito de Salvador com protagonismo e, naquela época, elegemos dois vereadores. Na eleição deste ano, mesmo tendo o governo do Estado, fizemos apenas a vereadora Marta Rodrigues”, acrescentou.
Edízio é ligado ao deputado federal Jorge Solla e um dos coordenadores do movimento interno do partido chamado de Avante, que pode lançar candidato a presidente da sigla na Bahia em julho de 2025 contra o grupo de Éden, que é apadrinhado de Wagner – a quem muitos petistas responsabilizam diretamente pela escolha de Geraldo Júnior – e cogita concorrer à reeleição em julho.
O próprio Edízio é uma das alternativas do grupo para o processo de disputa interna, além do prefeito de Amargosa, Júlio Pinheiro, que é próximo de Jerônimo, e de Gutierres Barbosa, da direção nacional petista e ligado ao deputado federal Josias Gomes, entre outros quadros. O movimento também pode apoiar uma eventual candidatura do ex-presidente do PT da Bahia Everaldo Anunciação, que é da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), hoje majoritária na legenda.
“A derrota foi grande em Salvador e nos faz refletir de que o PT tem que avaliar os rumos. Há sinais de que precisamos reestruturar e organizar o partido na capital e no Estado. E nós queremos entrar nessa discussão porque representamos 46% dos votos na última eleição interna”, declarou Edízio.
Resolução aprovada
Durante a reunião da direção estadual, que também homenageou o falecido deputado petista Luiz Alberto, que foi um dos principais expoentes do movimento negro na Bahia e no Brasil, Éden considerou positivo o desempenho do PT nas eleições deste ano.
“Em relação a 2020, o PT obteve mais de 15% de votos, aumentou o número de prefeitos de 32 para 5O. E não podemos deixar de registrar a tão importante e histórica vitória de Luiz Caetano em Camaçari. Nestas eleições, nos tornamos o maior PT do Brasil”, afirmou o dirigente, em nota encaminhada à imprensa.
Éden afirmou que, em 2026, o PT vai trabalhar para se aproximar ainda mais das bases, intensificar o diálogo com a nova classe trabalhadora e se aprofundar no entendimento da nova realidade que se impõe na sociedade. Foi aprovada uma resolução, em comum acordo, que tem como ponto central o argumento de que o partido precisa se reorganizar e se fortalecer no campo político para viabilizar as reeleições de Jerônimo e do presidente Lula.
O documento fala da “necessidade de corrigir rumos para um caminho que fortaleça o PT e promova mais justiça social e desenvolvimento para o Estado”. A resolução realça também a necessidade de entendimento do novo cenário de polarização da disputa política na Bahia e no Brasil, entre o “time” de Jeronimo e Lula e o do ex-prefeito ACM Neto (União) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).