A proposta do governo de conceder aeroportos regionais da Bahia à iniciativa privada, incluindo o de Paulo Afonso, levanta expectativas e preocupações. Em tese, a concessão traria investimentos para a modernização da infraestrutura, o que, a médio e longo prazo, poderia beneficiar a economia local e regional. Contudo, a experiência mostra que nem sempre as promessas se traduzem em realidade, especialmente quando a viabilidade financeira e estratégica do empreendimento não está clara.
Paulo Afonso, com sua relevância histórica, localização estratégica e potencial turístico baseado em atrações como os cânions do Rio São Francisco e as belezas naturais, poderia ser um destino atrativo. Entretanto, a cidade enfrenta desafios estruturais que impactam diretamente a competitividade do aeroporto. A grande questão é: o que Paulo Afonso tem a oferecer para garantir o retorno sobre o investimento para os futuros concessionários?
A lógica de mercado exige que aeroportos sejam sustentáveis. Para isso, é essencial atrair companhias aéreas, aumentar o fluxo de passageiros e promover a utilização da estrutura. Mas, para que o aeroporto de Paulo Afonso seja viável, seria necessária uma estratégia robusta por parte dos concessionários levando em consideração:
Redução de taxas aeroportuárias, parcerias com governos locais e estaduais para subsidiar voos regionais, e campanhas para estimular o turismo e negócios na região.
Promover o aeroporto como porta de entrada para o turismo no sertão, conectando-o com os roteiros de Paulo Afonso e cidades vizinhas. Contudo, em termos de atratividade turística, o aeroporto enfrenta concorrência direta com destinos consolidados.
Explorar a capacidade de movimentação de mercadorias pode ser uma saída para complementar a receita do aeroporto, dada a limitação atual no tráfego de passageiros.
O maior receio é que a concessão se transforme em um compromisso superficial, onde o concessionário mantenha o aeroporto apenas operacional, sem novos investimentos significativos, priorizando estruturas menores, porém mais rentáveis, como o aeroporto de Lençóis. Nesse cenário, Paulo Afonso poderia permanecer com a estrutura atual, limitada, perpetuando um ciclo de baixa atratividade e subutilização.
Mais preocupante ainda seria a possibilidade de o aeroporto se tornar um “elefante branco”: uma infraestrutura dispendiosa, sem utilidade real para a população e sem gerar o retorno esperado. Por isso, é crucial que o processo de concessão tenha critérios claros que exijam investimentos concretos e garantam a continuidade operacional com melhorias.
O debate deve ir além do entusiasmo inicial. Precisamos avaliar, de forma transparente, os parâmetros que assegurem a viabilidade econômica do aeroporto de Paulo Afonso. O envolvimento da comunidade e de especialistas na discussão é fundamental para que, no futuro, essa concessão seja lembrada como uma oportunidade aproveitada, e não como mais um exemplo de descaso com o potencial da região.