Em Paulo Afonso, desde que era menino, esporte sempre foi visto meio de lado, como aquele parente distante que a gente só lembra no Natal. Infelizmente não sou dos tempos áureos de brilho esportivo. Nas últimas décadas, a prioridade dos prefeitos parece seguir a lógica da festa, e não da atividade física.
Por incrível que pareça o prefeito Paulo de Deus, foi o que mais investiu no esporte. Um feito quase milagroso, diga-se de passagem, porque dizem por aí que ele, na infância, talvez nunca tenha sequer chutado uma bola de meia ou arriscado uma brincadeira de bola de gude. Mas, vejam só, virou o "cara do esporte na modernidade já não tão jovem". Ironias do destino? Pode ser ou visão administrativa voltada aos anseios do povo, para ser mais exato.
Enquanto isso, os demais gestores da região olham para os programas de financiamento de esportes com uma desconfiança digna de quem está lidando com investimento em bolsa de valores: "Ah, será que vale a pena?", "E se eu não souber mexer nisso?". Muitos ficam só observando, até mesmo quando o governo federal oferece algum projeto.
Com algumas opções de apoio que poderiam ser convertidas em ginásios bem equipados, campos, quadras, eles ainda preferem os eventos de grande apelo popular, tipo "festa para inglês ver"
E quem melhor exemplifica essa história do esporte como festa é a nossa velha conhecida Copa Vela. Um evento que, ironicamente, tem o nome de Copa Vela, mas cadê a vela? Isso é que ninguém explica. Competição náutica, então, nem pensar! E consome milhões que até seria melhor se distribuísse diretamente entre ambulantrs, hotéis e restaurantes, face ao pouco retorno que o alto investimento dá à cidade. Já o Moto Energia, ah, esse sim “deixa dinheiro no caixa”, mas também é uma festa, porque de esporte esportivo, a rigor, não tem nada.
E assim o esporte vai sendo enredado nesses pacotes de “festas esportivas”, que na verdade são muito mais festanças do que qualquer outra coisa.
Aí vem a pergunta inevitável: é festa ou é esporte? No final, quem sai ganhando mesmo são os empresários, principalmente os donos de bandas ou atrações que aproveitam a farra e fecham seus lucros, enquanto o município fica com as despesas para organizar o evento e pouco vê de retorno para o que realmente importa.
O estádio, que foi “requalificado” — palavra chique para obra feita "nas coxas" — poderia ser a sede de torneios decentes, daqueles que movimentam a cidade, animam a torcida. Quem sabe até homenageando, o injustiçado, Nilson Brandão e outros grandes entusiastas dos esportes. Mas, por ora, tem servido mais para preencher a agenda de políticos que, de vez em quando, lembram que esporte existe. Já o ginásio, tadinho, fica ali esperando alguém se lembrar dele, subutilizado, reduzido a um palco para uns poucos eventos politiqueiros.
E agora chega o “Galinho”. Jovem e com entusiasmo, parece querer fazer uma reviravolta na cidade. Vamos torcer para que esse sangue novo aproveite o potencial dos jogos estudantis, dos campeonatos da zona rural, que são uma festa no melhor sentido da palavra! Tem picolezeiro, tem ambulante, tem gente se virando e se ajudando. Isso, sim, dá força para a economia dos pequenos e cria aquele movimento saudável que só o esporte genuíno é capaz de gerar.
Há também a promessa de resgatar esportes radicais, um ótimo gancho para o turismo, tema da recente Expedição Raso da Catarina e que será foco na reunião de janeiro do grupo. É aquele tipo de oportunidade que, se bem trabalhada, transforma a cidade em ponto de encontro dos aventureiros e dos curiosos, criando uma atração que se paga sozinha com o tempo.
Resta saber se o esporte vai deixar de ser o primo empurrado para o canto nas festas ou se vai, finalmente, ganhar o seu lugar de destaque, que já teve num passado distante, na família. Num mundo onde até os grandes líderes repensam suas prioridades, está na hora de Paulo Afonso atualizar a sua relação com o esporte e parar de insistir no ciclo vicioso da festança que não leva a lugar nenhum. Vamos torcer, porque a cidade merece mais do que apenas um evento animado — ela merece uma prática esportiva de verdade, que movimente a economia local e, principalmente os atletas nas mais variadas modalidades, nas áreas urbana e rural.