Na periferia da nossa Paulo Afonso, um som metálico ecoa entre as pilhas de lixo: é a solda sobre solda, o remendo improvisado que tenta, desesperadamente, manter a esteira funcionando. Esse som é o grito de socorro da ARPA (Associação de Reciclagem de Paulo Afonso), uma entidade que se vê abandonada, lutando contra a precariedade para continuar segregando os resíduos que a cidade descarta.
Os recursos repassados são escassos, insuficientes para cobrir as necessidades básicas. As máquinas, que um dia foram o coração pulsante da associação, hoje estão defasadas, com peças improvisadas que mais parecem relíquias de um tempo em que a esperança ainda existia. Os veículos, essenciais para o transporte de materiais, estão em condições tão deploráveis que cada saída é um risco iminente, uma roleta russa para os motoristas.
A estrutura física da ARPA, já antiga, ameaça desabar. As estruturas que sustentam os telhados com sinais de corrosão colocando em risco a integridade física daqueles que lá trabalham e o telhado precário são testemunhas silenciosas de um descaso que se arrasta por anos. Dentro desse cenário desolador, trabalhadores incansáveis se empenham em continuar o serviço, movidos por uma determinação que desafia as adversidades diárias.
Esses homens e mulheres, invisíveis para muitos, desempenham um papel crucial na sustentabilidade urbana. São eles que, com suas mãos calejadas e rostos marcados pelo cansaço, separam o lixo, transformando resíduos em esperança de um ambiente mais limpo e saudável. No entanto, o reconhecimento que recebem é ínfimo, e o apoio, inexistente.
As autoridades, que deveriam ser as primeiras a estender a mão, parecem fechar os olhos para a realidade gritante. Promessas vazias e discursos sem ação não resolvem o problema; apenas acentuam a sensação de abandono. A ARPA pede socorro, não apenas por si, mas pela cidade que serve com tanto zelo.
Enquanto isso, a esteira continua a funcionar, cada solda um símbolo de resistência. A ARPA segue em frente, dia após dia, mesmo que a estrutura ameaça desabar a qualquer momento. E assim, os trabalhadores, heróis anônimos, seguem firmes, esperando que, um dia, suas vozes sejam ouvidas e suas condições de trabalho sejam dignas do valor que eles realmente têm.
Este clamor não pode mais ser ignorado. É preciso agir, antes que a estrutura caia, levando consigo não apenas a cobertura, mas também a esperança de todos aqueles que lá depositam seu suor e trabalho por um mais sustentável.