Um dia depois do naufrágio de uma embarcação que transportava 18 pessoas da mesma família no lago de Sobradinho, no rio São Francisco, na Bahia, o proprietário do equipamento se apresentou à delegacia da cidade de Pilão Arcado (780 km de Salvador) para prestar depoimento, segundo informações do delegado do caso, Arnóbio Dionísio Soares.
Até as 19h desta segunda-feira (13), policiais civis e militares, bombeiros e voluntários tinham resgatado os corpos de dez vítimas -nove crianças e um adolescente. Segundo a polícia, Jucicarla Ferreira Lacerda, 10, continuava desaparecida até o início desta noite. Outros sete passageiros, todos adultos, sobreviveram ao acidente.
Chorando muito, uma das sobreviventes do naufrágio, Levenita Francisca de Souza, 55, disse que perdeu nove netos e um bisneto -a pessoa que continua desaparecida também é sua neta. "Foi tudo muito rápido, os adultos começaram a gritar e não deu tempo para fazer mais nada. Não deu para salvar meus netos e meu bisneto, estou arrasada, fiz o que pude, mas a minha vida ficou sem sentido a partir de agora."
Os corpos resgatados foram levados para Juazeiro, cidade a 280 km de Pilão Arcado, para a realização de exames por parte dos médicos legistas. Segundo a polícia, morreram: Matias Souza Mangueira, 6, Raí Ferreira Duarte, 6, Maurício Ferreira Lacerda, 8, Iris Vitória Ferreira Lacerda, um ano e oito meses, Ézio Carlos Teixeira Lacerda Sobrinho, 2, Pablo de Souza, 5, Cauã Ferreira Lacerda, 5, Jackson Moreira Falcão, 5, Marcos Vinícius Souza Mangueira, 6 e Lindinês Ferreira Lacerda, 16.
O capitão Tarcísio Ribeiro, do Corpo de Bombeiros, informou que as pessoas que trabalham no resgate estão equipadas com material de mergulho e que as buscas são concentradas, basicamente, na área onde o barco afundou, de acordo com depoimentos dos sobreviventes. "Vamos passar a noite trabalhando para encontrar o último corpo."
O delegado ressaltou que o proprietário da embarcação, Ailton Lopes de Andrade, 35, poderá responder por homicídio doloso com dolo eventual (sem intenção de matar, mas em que o autor assume os riscos de sua ação). "Ele assumiu todos os riscos ao transportar crianças, adolescentes e adultos sem oferecer a devida segurança." Todas as pessoas que estavam na embarcação não usavam coletes salva-vidas, segundo a PM.
Investigação
De acordo com policiais e testemunhas, uma canoa transportava 18 pessoas de uma mesma família no rio São Francisco -todos os passageiros iriam utilizar um veículo que faz a linha regular para o município. Eles voltavam de um passeio em um sítio de parentes. O barco tinha capacidade para transportar apenas três pessoas, segundo a polícia.
Segundo a Agência Fluvial de Juazeiro, ligada à Capitania dos Portos do São Francisco, um inquérito deverá ser instaurado para apurar as causas do acidente.
Segundo informações da polícia, a embarcação que naufragou é uma "rabeta", utilizada com frequência em pescarias, mas comumente usada para transportar pessoas no norte da Bahia de forma irregular.
A polícia informou também que cerca de 40 pessoas utilizavam a embarcação diariamente. Ainda sem o laudo que vai apontar as causas do acidente, a polícia de Pilão Arcado informou que os ventos fortes e o excesso de passageiros podem ter contribuído para o naufrágio.