O bem, representado, é óbvio, pela própria esquerda. O mal, pela chamada direita. A esquerda eram os que não se vendiam, que não faziam concessões e acordos espúrios com o poder econômico. Os progressistas, que seguiam a ideologia purista do bem. Do outro lado, estava o mal, a direita. Aqueles que se vendem, que fazem qualquer coisa para se manter no poder, os autoritários, conservadores, fisiológicos.
Tal visão maniqueísta nunca correspondeu à verdade dos fatos. Sabemos que pessoas de bem podem estar em qualquer lado da política. Da mesma forma que os desonestos também. Podem estar ao lado de Lula, de Serra ou de Marina. O posicionamento ideológico ou partidário não pode se confundir com os valores ou qualidades pessoais. Não atesta o caráter de ninguém.
Num outro plano, a chamada esquerda se apropriou de bandeiras universais como solidariedade, liberdade, proteção ao meio ambiente e defesa das minorias, de modo a sugerir que tais valores são patrimônios seus. Exclusivos. Demarcados. Mas todo esse esforço se esgarça e desmascara com o que vemos hoje no Brasil. Numa confusão de modos que desafia o bom senso de qualquer um.
Senão, vejamos essa "aliança" de esquerda protagonizada por velhas e conhecidas lideranças a levantar as bandeiras do PT. Lideranças como Sarney, o grande patriarca das oligarquias do Maranhão. Ou de Paulo Maluf, como vimos na campanha da Marta Suplicy. Ou mesmo de Fernando Collor de Mello. Todas, figuras tão execráveis anteriormente.
Aqui na Bahia, vemos o Governador Jaques Wagner limpando a ficha de carlistas adesistas como Mario Negromonte, João Leão, Otto Alencar - este, um carlista dos mais subservientes, que acumula aposentadorias que totalizam R$ 30 mil por mês, a maior delas conquistada com apenas cinco anos de serviço no Tribunal de Contas; um homem que se tornou, sabe-se lá através de qual acordo, candidato de Wagner a vice-governador. Vimos também o Governador Wagner paparicar César Borges para integrar sua chapa - aquele mesmo que invadiu a UFBA oito anos atrás e que queria privatizar a EMBASA.
Em nome do poder, da perpetuação do poder, a esquerda de outrora se aliou aos piores quadros da chamada direita, e, por todo o País, o eleitor já não sabe mais quem é quem. Isso porque a esquerda sempre quis nos convencer que as pessoas que não comungam com as suas idéias são o lado podre da sociedade.
Na avassaladora arrancada da cooptação, a esquerda deseja ocupar todos os espaços. Alimentada pelo poder e pelo dinheiro, se julga agora dona do país. Quer se impor a todos: pela propaganda e pela submissão. Essa é a base doutrinária do autoritarismo. Aquele que, em Cuba, chama de presos comuns os presos políticos e que dizia que havia democracia nos regimes comunistas do Leste Europeu.
É a isso que precisa reagir a consciência republicana, as pessoas comprometidas com a democracia no Brasil; sob pena de cairmos, aos poucos, aos pés de um Estado cada vez mais centralizador, autoritário e partidarizado. É a isso que precisa dizer não a razão e o discernimento do eleitor. Identificando os fatos e rejeitando as embromações e mentiras.
Por trás de toda encenação de alianças, corrupção e compra de candidaturas desse pleito eleitoral, está em jogo a natureza da democracia brasileira, a lisura dos pleitos e a seriedade do processo eleitoral. A esquerda, que sempre defendeu o Estado totalitário, a ditadura de classe, se vale agora das práticas democráticas para conspirar contra a democracia - como Hugo Chávez tem feito na Venezuela.
Portanto, não aceito e nunca vou aceitar a divisão do povo brasileiro, dos políticos brasileiros, dos intelectuais brasileiros, da família brasileira em dois lados. Um do bem, outro do mal.
O país não tem lado e as pessoas têm direito a terem suas idéias e lutarem por suas convicções. Na democracia, é esse principio que garante a renovação de poder, permitindo ao eleitorado, quando assim deseja, a substituição dos governantes.
Sei que estou enfrentando uma monstruosa máquina de propaganda e adversários milionários travestidos de esquerda, que usam muitas vezes vultosos recursos públicos para manipular o eleitorado. Sei disso. Mas é com a consciência tranqüila que entro nessa eleição na luta por uma causa. A causa do discernimento. A causa da liberdade de expressão. A causa do combate à manipulação. A causa da ética na política. A causa dos que não aceitam o maniqueísmo infantil da esquerda, nem se deixam corromper por um punhado de reais.
VIVA A DEMOCRACIA!
José Carlos Aleluia