Vamos lá: David Cavalcanti (PP) estreou como prefeito neste mandato, jovem, mas com larga carreira política na condução das campanhas do seu grupo político. Até aí tudo bem.
Para começo de conversa, em relação à sua antecessora é mais presente no município, corrigiu algumas coisas que cambaleavam no governo de Ena Vilma (PP), mas também sofre – e de forma aguda – a queda na receita de Glória.
Não bastasse a exclusão do rico dinheirinho dos Royalties - remédio amargo também provado por Ena Vilma – recentemente foi à Brasília saber o porquê da baixa no FPM (Fundo de Participação dos Municípios) este é sem dúvida, de início, seu maior desafio.
Por que sem dinheiro o que se pode fazer?, quando se levanta a cabeça e vai de encontro a uma crise dessas? Por isso, neste intervalo de 100 dias, havemos de entender suas limitações porque prefeito não faz mágica. Ele precisa de recursos.
A outra face
Mas há em David características que não combinam com sua juventude. David é um administrador antigo. ‘O povo sou eu’, Luiz XIV teria dito que “o Estado sou eu”, uma constatação política – e a mais concisa definição que se conhece do termo autocracia.
O absoluto prefeito, para ficar num exemplo, mandou que se retirasse a Cruz da entrada da cidade (pretende colocar um ‘bem-vindo à Glória’) sem se quer perguntar ao administrador paroquial: ‘Para onde este sinal de um povo que pertence a Deus deve ir?’, não. O resultado é que, de toda sorte, a cruz das santas missões ficou em pedaços. Podia não ser bonita, mas é símbolo sagrado. Vamos adiante.
O cabresto na Câmara Municipal
Ena Vilma: ‘/Se todos fossem iguais a você/ que maravilha viver/’. A prefeita tinha seus defeitos, como cada um de nós o tem, mas sempre tratou o Legislativo com independência. Quando a Câmara lhe negava um projeto, aconteceu quando perdeu a maioria, chamo-os a responsabilidade dos seus atos para o município. Foi à justiça e conseguiu o que pretendia.
David Cavalcanti: ‘/Hoje você é quem manda/ falou tá falado/ não tem discussão, não.../’.
Um mísero requerimento, ainda que em benefício do povo, mas vindo da oposição, se contrariá-lo, deve ser reprovado (um espaço para o riso), isso é coisa de postura centralizadora. Até parece que prefeito neste país atende requerimento de vereador. O prefeito faz de acordo com o seu planejamento, o requerimento é só para tomar tempo nas sessões.
Mas como não faz mal a ninguém, deixa pelo menos que o vereador faça sua prerrogativa. O líder do governo, Paulo Gomes (PP) foi taxativo: ″Bancada segue voto unida″, constrangendo um colega que acabara de votar independente. Olhe o chicote aí gente!
O resultado prático é um clima cada vez mais tenso, um trabalho muito grande do presidente Gilmar Pereira (PP), para manter a ordem, a oposição sente o autoritarismo respingar na Casa, reclama, e tudo isto é absolutamente desnecessário, porque David aprova com folga o que quiser: são 9 contra 2.
É começo, o prefeito até o momento não se pronunciou, está mudo, não há uma mísera entrevista dele nestes 100 dias explicando alguma ação. Mas tem um caminho longo a ser percorrido, espera-se com mais diálogo e menos centralidade.