por Marcos Tavares
Abençoada religião essa nossa que nos permite a redenção com tão pouco esforço. Depois de toda a baderna do Carnaval, basta colocar um pouco de cinzas na testa e o cristão está novo, retemperado, pronto para ganhar o reino dos céus, exceto pela ressaca mortal, mas esse é um mal físico, não espiritual. Como temos a confissão que redime, temos também as Cinzas que tiram todas as manchas por acaso adquiridas nas festas de Momo, que sempre levam a um exagero, que sempre nos fazem ultrapassar limites nem todas as vezes os mais convenientes. Mas, tomadas as cinzas apaga-se o pecado e a vida recomeça para horror de alguns carnavalescos, que preferiam um ano de pagode.
As Cinzas marcam o início da Quaresma, temporada que antecede a Semana Santa e para os católicos tem o simbolismo de lembrar nossa efemeridade. Das cinzas às cinzas é a mensagem que pede para que reflitamos sobre nossa atemporalidade aqui na terra, passageiros apressados de um mundo que não para de girar. Já foi mais respeitada, mas mesmo assim muitos fiéis ainda procuram as Cinzas como uma maneira de redenção e reflexão muito embora a maioria prefira curtir o fim do carnaval numa cama macia longe de igrejas e padres.
Diz-se que o ano oficial no Brasil só começa depois da Quarta-feira de Cinzas. Até agora foi só prelúdio, preparação, ensaio. Agora a coisa começa pra valer já que o feriadão mais próximo vem na Semana Santa, o que nos dá uns belos dias de trampo. Seja como for, o final do carnaval marca um tempo novo quando parece que o calendário engrena e o ano velho ficou realmente para trás. Agora é despir a fantasia, guardar o pandeiro e começar a pagar as contas de uma festa que cobra seu preço