Não é necessário ser nordestino para saber que nessa região do Brasil, os ingredientes indispensáveis para fazer uma festa junina completa são: as comidas feitas à base de milho, os fogos de artifício, as ruas enfeitadas com bandeirolas coloridas e, principalmente, as danças. As coreografias das quadrilhas se destacam e esquentam as noites frias do inverno, tanto para os dançarinos, quanto para quem acompanha os passos ensaiados com capricho para fazer bonito nas competições.
Nas cidades que seguem essa receita, a festa popular mais celebrada pelos brasileiros depois do Carnaval, é mais animada, e os moradores se sentem incentivados a manter a tradição, trazida para o país por influência dos portugueses no século XVI.
Mas, em Paulo Afonso (Norte da Bahia), há quem diga que o São João está adormecido. A falta de incentivo e, principalmente de apoio financeiro do Poder Público, torna a cada ano mais difícil a realização do evento, que em outras décadas já foi motivo de orgulho para quem vive na cidade de 64 anos.
Para o coreógrafo Luiz Júnior, presidente da União de Juninas do Norte e Nordeste (UJNN), nos últimos anos, as entidades e movimentos culturais de Paulo Afonso enfrentam empecilhos que dificultam a luta pela sobrevivência. Segundo ele, o resultado é o enfraquecimento das atividades, cada vez mais reduzidas por falta de recursos.
“Infelizmente, os pauloafonsinos estão perdendo o gosto pelo São João, e isso se deve à falta de apoio, quase sempre, motivada por perseguição política. Nós que fazemos cultura entendemos que a política correta tem a função de contribuir para que as pessoas realizem aquilo que escolheram para prestar um serviço à cidade, mas aqui não existe essa consciência”, observa.
O artista pauloafonsino, criador da Quadrilha Império do Forró e que coleciona diversos títulos em sua trajetória, lembra que em outras épocas os artistas da cidade eram valorizados. Para ele, o olhar diferenciado da gestão passada era o combustível que movia a cultura local.
“Não podemos negar que nos governos anteriores, a cultura era vista com mais sensibilidade, indiscutivelmente nós tínhamos uma atenção maior, e por isso, as coisas aconteciam da maneira como eram planejadas. Hoje, existe um abismo e nossos artistas estão caminhando cada vez mais para cair nele. Apesar da cobrança, o descaso coloca uma corda no pescoço dos artistas, sejam cantores, dançarinos, artistas plásticos, e a maioria do grande celeiro de Paulo Afonso está sendo vítima dessa situação”, conclui.
As festas juninas também são responsáveis pela movimentação financeira nas cidades famosas pela grade de programação, e Paulo Afonso já fez parte dessa lista. Este ano, apesar da expectativa para o retorno após a pandemia, a cidade perde até para o menor município do estado e a frustração é geral. E para completar o desânimo dos que aguardaram dois anos pelo retorno do São João de rua, a cidade volta a viver dias de tensão com 93 casos ativos de Covid-19. Só na segunda-feira (20) foram confirmados 71 casos positivos, trazendo preocupação da Secretaria de Saúde sobre proliferação da doença em larga escala.