O número de ligações falsas para o número 192 do Samu tem crescido de forma preocupante. Crianças simulam ocorrências e adultos são os que dão mais detalhes convencendo os atendentes do órgão. Quando se desloca para atender a um chamado falso, além dos gastos com combustível e psicológicos de socorristas e médicos, o Samu pode deixar de prestar socorro em um caso real. Contudo, um dado é preocupante, a incidência de trote vem aumentando a cada dia. Nos dois primeiro meses deste ano o setor contabilizou 2.500, desde os mais simples aos mais complexos”, revela Ricardo Valença, gerente geral da base do Samu em Paulo Afonso.
Nesse cenário entre ligações sérias e ligações nada sérias, vive o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) de Paulo Afonso. O número de trotes, no ano passado foi de 25 mil, revela o coordenador Geral Ricardo Valença, responsável pela regulação médica do SAMU. Trotes que acabam atrapalhando a vida de quem realmente quer trabalhar e de quem de fato precisa de atendimento.
Alguns trotes são identificados, a maioria deles feito por crianças. Em alguns casos os atendentes descartam a ida ao local. Outros convencem pelo número de detalhes apresentados, mas ao chegar ao local os socorristas enfrentam a frustração por estar em uma falsa ocorrência.
“Poderíamos estar atendendo uma vítima. Muitas vezes poderíamos salvar uma vida e por minutos um paciente chega a falecer porque a nossa viatura em vez de ia para uma situação verídica vai para uma que não existe”, completa Valença.
Para tentar a diminuição dessa prática, o Samu planeja realizar ações de conscientização junto a escolas por meio de palestras e outras atividades. Campanhas em rádio, internet, também poderão acontecer. Por fim, o trote também pode confundir na hora de decidir enviar ou não a viatura apesar de todo o treinamento que os atendentes são submetidos.
.“As pessoas conseguem simular tão em um quadro dramático e nós nos sensibilizamos com a situação e por ter a preocupação primeira com a vida das pessoas, nós preferimos liberar uma viatura porque senão a pessoa deixa de ser beneficiada por causa de um trote. É por isso que o trote é danoso ao sistema”, explica Ricardo Valença. Hoje o SAMU atua como sede regional e está presente em Paulo Afonso, Glória, Jeremoabo, Santa Brígida, Abaré, Rodelas, Chorrochó, Macururé e Pedro Alexandre. O quadro funcional do SAMU atua 10 médicos, 1 coordenador Geral, 1 Coordenador de Enfermagem, 1 Coordenador Médico, 5 enfermeiras, 15 condutores, 10 técnicos em enfermagem e 10 Tarms (Técnico Auxiliar de Regulação Médica). O coordenador do SAMU, Ricardo Valença, explica que a população vai se acostumar gradativamente com o serviço e entender toda a logística de atendimento, com regulação médica. “As demandas aumentam principalmente no chamado horário de rush, quando há um número maior de pessoas circulando e com maior probabilidade de registro de ocorrências. Pela triagem das chamadas, priorizamos os atendimentos de urgência e além da agilização no processo de atendimento há o encaminhamento direto do paciente ao local adequado”, disse.
O atendimento é feito de maneira integrada entre Polícia Militar, Corpo de Bombeiros. Nos casos onde houver a necessidade de desencarceramento (retirada das ferragens), o trabalho será feito pelo Corpo de Bombeiros e a remoção pelo SAMU. Nas rodovias privatizadas, o atendimento é de responsabilidade das concessionárias.
Como funcionam os atendimentos
Ricardo, explica que quando uma pessoa liga para a central de regulação ela é atendida por um dos técnicos auxiliares de regulação médica. Essa pessoa é responsável por coletar os primeiros dados, como a natureza da ocorrência, onde aconteceu, um ponto de referência e pelo menos o primeiro nome do solicitante. Colhidos esses dados, a ligação é repassada para um dos médicos do Samu 192, que fará a avaliação da ocorrência. Ele verificará se é apenas o pedido de uma orientação, ou se é um caso mais grave, que precisará o deslocamento de uma equipe. Se precisar de uma equipe, ele avalia qual o tipo: com ambulância básica, composta por um condutor socorrista e um técnico em enfermagem ou se é preciso unidade avançada, com UTI móvel, composta por um médico, um enfermeiro e o condutor socorrista.
O Coordenador informou que o sistema da central de regulação consegue identificar o número de onde está sendo feita a chamada, mas isso não é o suficiente para saber se a ligação é trote. A equipe também tenta prestar atenção se durante a ligação há risadinhas ao fundo e se a ligação está sendo feita por uma criança. Contudo, como adultos também costumam se dar ao trabalho de passar trotes para o serviço, fica difícil para as equipes identificar se a ocorrência é verdadeira. “Tem algumas situações que não conseguimos identificar. Nós tentamos, só que muitas vezes os adultos conseguem nos enganar. Mesmo que a gente solicite os dados, como o nome, eles passam dados falsos e conseguem passar a informação de uma forma tão verdadeira que nós acabamos acreditando”, relatou.
Maior incidência
O enfermeiro informou que a maioria dos trotes é feita por crianças e existem alguns horários que são mais frequentes, como nos horários de entrada e saída das escolas. Adultos costumam passar trotes maliciosos, principalmente no período da noite.
Punição
Art. 340 do Código Penal - Decreto Lei 2848/40: Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Na intenção de coagir os autores dos trotes, principalmente quando se trata de crianças, Ricardo disse que a equipe costuma, assim que a ligação é encerrada, retornar para o número registrado na central reguladora e pedir para falar com os pais ou o responsável pela criança que fez a ligação.
Além disso, o Coordenador do Samu disse que acredita que se houvesse autorização para que as operadoras de telefonias divulgassem os endereços e nomes dos usuários dos telefones, inclusive celulares, o próprio Samu poderia tentar conversar com esses falsos solicitantes e explicar a gravidade desses trotes. E se necessário, nas ligações que resultam na mobilização das equipes e dos veículos, cobrar os gastos envolvidos nessa brincadeira de mau gosto.
Riscos
Ricardo explicou que não são apenas os gastos envolvendo a mobilização das equipes que implicam na gravidade dos trotes. O mais preocupante é se, no momento em que a falsa ocorrência for registrada, uma verdadeira estiver acontecendo e acabar prejudicando o atendimento de pessoas que realmente necessitavam.
“É importante que as pessoas liguem para o Samu 192 quando realmente têm a necessidade de fazer esse contato. Só o ato de ligar já deixa a linha ocupada. Nós temos três linhas, mas pode acontecer das três estarem ocupadas e uma pessoa que tem extrema urgência ter que ficar esperando”, alertou.
Fonte/Autor: Agecom por Luiz Brito