Diz Ferreira Gullar, escritor e poeta maranhense, que um banco de praça, uma rua, uma esquina, não é só isso em si, ferro e cimento, uma construção física e sim um símbolo, um marco e uma marca de sua vida na cidade que você nasceu e cresceu. E isto é verdade, em Serra Talhada alguns bancos de praça marcaram encontros com as primeiras namoradas, os primeiros amores, encontro com os amigos de infância. Existem ruas, como a Praça da Igrejinha (do Rosário, onde hoje é a Concha Acústica), onde eu passei a maior parte da minha infância, onde eu brincava com meus irmãos, primos e amigos de futebol, jogava pião, jogava bila, andava de patinete e de vez em quando uma briga, pois afinal nós, os filhos de Serra Talhada éramos obrigados a ser valentes, brigões, não levava desaforo para casa; principalmente quem tinha tantos irmãos homens como eu (somos 10 homens e 2 mulheres). E lá nesta praça ainda estavam as casas da minha avó Cecília e minha bisavó Mariinha e a tia “Mãe Lourdes”.
A areia do Rio Pajeú era o nosso paraíso, jogávamos bola todo dia à tarde, tomávamos banho de rio, bebíamos água nas cacimbas junto com os animais, só pegávamos uma amebinha, besteira... e ainda por cima pegávamos emprestado umas melancias na roça de Seu Joaquim Diogo, uma delícia...
O calçadão de Otacílio Batista, a calçada da igrejinha, nossos pontos de encontro... o Cine Arte de Zefinha Gomes e suas belas sobrinhas, o Cine Plaza de Padrinho Lourinho (saudoso), o Solidônio Leite (Socorrinha e Stela Godoy, Maria Alencar, Dona Lia Jurubeba e Ceci Soares, Genival) e por aí vai...
O Cônego Tôrres de Professor Rabelo, Fernando Arcoverde, Expedito Trigueiro, Geraldo Valença, Maria Conserva, Nogueira, todos estes lugares e pessoas são sagrados para mim, além da Igreja de Nossa Senhora da Penha e a nossa famosa Festa de Setembro. As barracas, as cervejas geladas e até quentes, o bode assado, a paquera correndo solta, as músicas românticas que doíam no coração e o velho e melhor clube do mundo, o CIST, sempre o CIST, como dizia o saudoso Zé Aubry, os primeiros bate-coxas com as meninas, Ases do Ritmo, Edésio e seus Red Caps, quanta história e quanta coisa que estão dentro de mim e que só aqui em Serra eu tenho.
As pessoas aqui me conhecem desde que nasci, desde menino, conhecem minha história de vida, eu sou Lula de Luiz de Cecília e de Zuleide, neto de Luiz Epaminondas e Zulmira, de João (Mocinho) e de Cecília Carvalho, sobrinho de Lourinho Acioly, dos Carvalhos da Umburana, dos Pereira Valões, dos Feitoza de Betânia, ou seja, aqui as pessoas conhecem minha história de vida, minhas qualidades e defeitos desde que nasci, aqui as pessoas confiam mais em mim, aqui eu me sinto mais protegido perto da minha mãe, de meus irmãos Jonas, Jânio, José e Jota, de meus filhos Madalena e Rodrigo, da minha neta Laura, de alguns amigos de infância, de alguns colegas médicos, enfim, é muito bom me sentir cercado por esta proteção e respeito e apesar das brigas, das desavenças do passado, o meu coração está em paz neste meu retorno a minha cidade, com as pessoas que me conhecem desde sempre e sinto nelas a esperança e a confiança que eu como Secretário de Saúde daqui, possa organizar e tornar o sistema de saúde municipal eficiente e eficaz socialmente, com a experiência e a bagagem que acumulei ao longo de minha vida médica e como gestor de saúde, Brasil afora!
É bom passar por Francisquinho de Orivaldo e ele me chamar de “primo véio”, é sonoro aos meus ouvidos, é bom também voltar a ser chamado pelo meu velho apelido de infância, Lula ou Dr. Lula, como chamam alguns. Gosto muito de ser chamado Aureliano, como fazem as pessoas fora de Serra Talhada do meu convívio profissional, etc., para mim é um nome forte, sonoro, representa a família com quem eu convivi mais, a família da minha bisavó Mariinha (que é de Lagoa de Baixo – Sertânia), mas o Lula da minha infância me faz um bem danado.
Amo Bocaiúva, gosto muito de Minas Gerais (os 3 primeiros anos da minha vida profissional), gostei muito de viver em Brasília (3 anos), cidade horizontal, verde, com cultura pra todo lado, cosmopolita, tenho vínculos fortes com Recife (Salesiano, Faculdade de Medicina da UFPE), o Sport Clube Recife, a Praia de Boa Viagem, alguns bons amigos e principalmente meus filhos Roberta, Zuleide e minha princesa Luiza e os netos Caio, Bia, Tiago, Pedro, Mariana, Júlia, Rafael, Gabriel e as boas experiências profissionais que vivi lá.
Ah! Amo o Pará e a tropa que me ajudou no trabalho que fiz lá na FUNASA (1998). Paulo Afonso é especial para mim, além de ser uma cidade saudável, bonita, organizada, rara no Nordeste, tive o prazer de ser Diretor do Hospital Nair Alves Souza por 5 anos, Secretário de Saúde da cidade e por último Vereador eleito pelo povo desta cidade fantástica. Meu compromisso com o povo de Paulo Afonso é pra sempre, quando for preciso estarei disposto a ajudar e contribuir com o progresso e o bem estar social de todos, independente de cargo político que ocupe. Em Paulo Afonso finquei estacas, conheci pessoas importantes, cresci como pessoa e profissional.
Obrigado a Nancy, Maninho, Romero, Celidone, Adriana e ao meu coração que não cansa de se apaixonar (Danieli)... Contem comigo.
Luiz Aureliano
(O Lula de Serra)
Fonte/Autor: Por : Luiz Aurelino de Carvalho Filho