O cidadão vai ao posto do PSF e lá não encontra o médico. Consegue chegar a Hospital Municipal, mas lá é informado que seu problema é mais grave do que se pode atender naquele local. Do HM ele desaba para o HNAS e depois de algumas horas consegue ficar do lado de fora no corredor estendido numa maca. Só que essa maca é da ambulância que o trouxe, e assim uma equipe inteira de socorro fica paralisada até que o hospital consiga um leito onde o enfermo possa descansar seus ossos doídos. E enquanto isso, muita gente que precisa da ambulância fica estendido numa rua suja ou agonizando depois de alguns tiros. Esse é o retrato do sistema de saúde nacional.
O médico não está no PSF porque PSF aqui no Brasil é bico. Não tem carreira, não tem ascensão e cada profissional é contratado a critério do prefeito, e assim de quarto em quatro anos ele perde o emprego. Logo não se pode exigir dedicação de um profissional desses, até porque a filosofia do PSF é integrar o médico à comunidade, fazendo dele um parceiro que conheça os doentes pelo nome e não pelo prontuário. As Horas deveriam estar entre o simples atendimento de postos e os casos hospitalares. Assim deveriam ser equipadas para pequenas cirurgias, exames e pronto atendimento. Mas não são.
Assim acaba tudo no hospital, que perde sua função de atender urgências e emergências com risco de vida e passa a atender dor nas costas, na medula e calo seco. Porque se não atender, vem a imprensa principalmente a do quanto pior melhor e faz um escarcéu. O leito que deveria salvar a vida de um politraumatizado está com um paciente operado de vesícula, sem nenhuma gravidade. Mas fica feio pegar o cidadão pelo braço e mandá-lo embora, e assim o HNAS fica lotado. Essa é a rotina em todo o Brasil, com Paulo Afonso no meio, que somente será quebrada quando implantarem postos eficientes, centros equipados que façam do hospital a instância final de todo o sistema.