Pelo andar da carruagem, não serão poucas - nem episódicas, as dificuldades que esperam a presidente Dilma Rousseff, no Planalto. Mais uma vez, o gosto amargo do poder será servido pelos aliados, não pelos adversários. Destes, o máximo que se pode esperar é o que se tem visto: distorcer os fatos, auto-proclamar-se detentores de todas as soluções para os problemas que não souberam resolver no passado, denunciar práticas por eles mesmos inventadas – enfim, repetir cantilena cansativa e posta muito distante dos verdadeiros interesses da coletividade, como acontece em qualquer lugar, inclusive aqui no sertão baiano.
Em grande medida, o resultado das eleições decorreu do vazio em que mergulharam as oposições brasileiras, se é que um dia elas puderam receber tal denominação. Bom exemplo dessa tibieza foi dado recentemente pelo DEM, que ficou a um passo de fusão com o PMDB. Acostumado à sombra do poder, dele recebendo o calor que conforta e premia, o sucessor do PFL, do PDS e da ARENA não admite sequer ver-se levado à inanição. Só os postos e cofres públicos, portanto, podem trazer o remédio de que necessita. Não será a ação desses que incomodará Dilma.
As ameaças vêm da chamada base aliada, o que quer que isso signifique. Mais especificamente, é o PMDB que deve preocupar a presidente. A voracidade do partido, por demais conhecida, certamente não surpreende. É preciso avaliar, porém, a posição a ser assumida pelo PMDB, a partir de 1º. de janeiro de 2011.
Por mais que se pretenda ser magnânimos, se haverá de reconhecer que tal sentimento nem sempre se afina com a conduta política. Precisaríamos ser todos anjos, para descartar o interesse – raramente ostensivo – de chegar ao mais alto posto, mesmo se isso custa o mandato do titular. Ainda mais quando as alianças são tecidas ao sabor das ondas eleitorais, repousadas em débeis e soltos fios.
Transformada assim a atividade política em mero exercício de matemática, nada surpreenderá a oposição entre presidente e vice-presidente. Sequer original será tal configuração.
A própria formação da equipe que acompanhará Dima Rousseff começa a deixar à mostra as unhas sempre afiadas, mas nem sempre aparentes, dos aliados, o PMDB à frente, por motivos os mais óbvios. Obviedade, porém, não quer dizer legitimidade. Sendo ainda o partido mais forte, e compondo a chapa vencedora, o partido presidido por Michel Temer desempenhou papel decisivo na eleição presidencial.
Difícil imaginar que, com tais credenciais, o PMDB simplesmente se acomodasse e pretendesse desfrutar apenas do poder efêmero dos vice-presidentes. O que talvez muitos não esperassem é que a sede levasse tão rápida e atabalhoadamente os peemedebistas ao pote. Apoderar-se de alguns cargos importantes, então, parecia conseqüência lógica da participação na disputa, afinal vitoriosa.
Nem Lula, nem Dilma, nem qualquer outro aliado esperaria desprendimento. Seria ingenuidade sem tamanho, também, pretender que o próprio Michel Temer se mantivesse olimpicamente afastado da composição do ministério. Dilma poderá dizer, assim, que rói os ossos do ofício.
As dificuldades em compor a equipe de governo devem ser vistas como a primeira, e certamente não a única, dificuldade. Outras virão, inclusive aquelas que podem levar o sucessor a engrossar o coro da oposição que se vier a construir. Afinal, derrotas eleitorais são compreendidas e aceitas, quanto mais próximo se estiver dos padrões democráticos tão rejeitados quanto proclamados. Daí muitas vezes a voz das urnas não conseguir sobrepor-se ao alarido dos insatisfeitos, a que a grande imprensa tem sabido sempre servir. Aqui, como em toda ação humana, convém dar atenção aos interesses em jogo.
Se é verdade que José Dirceu, mesmo nos bastidores, desempenhará algum papel no governo a instalar-se em 1º. de janeiro de 2011, Dilma não perderia por ouvi-lo. Com a vantagem de não ocupar qualquer cargo oficial, o ex-deputado talvez enxergue melhor o tabuleiro em que o PT se meteu. Mas para quem está surpreso, que espere a eleição municipal aqui em Paulo Afonso, em 2012.
Fonte/Autor: Dr. Pimenta