Quando Marcos* assume a boleia do onibus da Atlântico sabe que as próximas horas serão apertadas. Além de enfrentar o trânsito caótico de Paulo Afonso, o condutor ainda tem que cobrar as passagens. Em muitos casos, os motoristas não têm troco, e o Pior: sua dupla função quase impossibilita a missão de cumprir a tabela de horários estipulada pela Atlantico, empresa que gerencia o transporte em Paulo Afonso .“A empresa fala que não pode cobrar e dar o troco com o ônibus em movimento. Mas se eu não fizer isso, não consigo cumprir o horário”, diz.
O motorista afirma que os atrasos e dificuldades dos motoristas seriam menores se os onibus aceitassem apenas usuários com cartão-transporte. “Com isso, o condutor não teria a obrigação de fazer a cobrança da passagem”, diz. Todavia, do total de passageiros diários da rede de transporte coletivo, aproximadamente 50% usam o cartão.
Em Paulo Afonso, a empresa Atlantico precisa valorizar seus empregados e adotar campanhas para que os usuários adquiram cartão avulso e dinheiro trocado. Muitas vezes o motorista não tem troco.
Urge a necessidade da presença do Sindicato dos rodoviários para discutir as condições desse trabalhador buscando formas justas e não inviabilizar a saúde financeira da empresa, que apesar desse transtorno,presta um bom serviço aos usuários do transporte coletivo.
Um paradoxo move a dupla função dos motoristas. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê multa para condutores que dirijam falando ao celular – uma das infrações típicas das grandes cidades. Se o celular afasta o foco do trânsito, o mesmo raciocínio deveria ser aplicado no caso de o motorista precisar devolver o troco ou receber dinheiro e dirigir simultaneamente.
O advogado Dr. José Luiz de Oliveira Neto, considera abuso o excesso de responsabilidade para motoristas. “A função é dirigir. Se é proibido usar o celular dirigindo, por que é permitido cobrar as passagens?”, questiona.
*nome fictício