Política

Paulo Afonso - Bahia - 18/01/2022

Há 67 anos era inaugurada a 1ª Usina da Chesf. Começava a redenção do Nordeste!

Folha Serteneja - Antonio Galdino
Presidente Café Filho inaugurando a Usina Paulo Afonso I em 15 de janeiro de 1955  (Foto: Acervo do Autor e Memorial Chesf.)

Manhazinha de 14 de janeiro de 2022, ontem, às 6:15, Dr. Luiz Fernando Motta Nascimento me envia um E-mail lembrando que hoje, 15 de janeiro de 2022, faz 67 anos que foi inaugurada a 1ª Usina de Paulo Afonso e, com ela iniciado o processo de redenção do Nordeste brasileiro que tinha, naqueles tempos, os índices de desenvolvimento inferiores aos mais pobres países africanos.

Este ato de inauguração da primeira grande usina hidrelétrica do Nordeste, trouxe a Paulo Afonso, além do presidente da República, Café Filho, nordestino do Rio Grande do Norte, cerca de 250 pessoas, ministros de Estado, Governadores do Nordeste, autoridades civis outras, eclesiásticas, muitos outros brasileiros de outros estados e estrangeiros para um evento que ganhou as manchetes das grandes publicações do Brasil e noticiário no exterior.

Lembra ainda o pioneiro chesfiano Luiz Fernando Motta Nascimento, que foi estudante na sala de aulas improvisada em 1946, para receber os filhos dos trabalhadores da Usina Piloto, como seu pai, Mestre Alfredo, e depois foi aluno das Escolas Reunidas da Chesf e do Ginásio Paulo Afonso, onde concluiu este Curso Ginasial em 1958, ano da emancipação política do município de Paulo Afonso. 

Formado em engenharia, Luiz Fernando foi diretor de duas diretorias da Chesf: a de Suprimento e a de Construção. Hoje, chegando aos 83 anos de idade continua pesquisando e escrevendo sobre hidroenergia e a Chesf.

Presidente Café Filho, ao lado da pedra marco da inauguração da Usina PA-1 em 15/01/1955

Ele lembra que nesse ato de 15 de janeiro de 1955, o presidente Café Filho, ao lado do Presidente da Chesf Antônio José Alves de Souza, do Diretor Técnico Marcondes Ferraz e de outros diretores da Chesf, exatamente ao meio dia inaugura a Usina Paulo Afonso I com apenas dois geradores. Lembra também Luiz Fernando que “Recife já recebia a energia elétrica de Paulo Afonso desde o dia primeiro de dezembro de 1954, pois às 6 horas da manhã o Diretor Técnico Marcondes Ferraz fez a energização do primeiro alimentador, enquanto que o velho amigo o engenheiro da Chesf Geraldo Barreto energizou o segundo”.


E acrescenta o ex-diretor da Chesf que “esta data representa o início da Redenção do Nordeste, assim como o início da construção das grandes hidrelétricas brasileiras.

A Usina de PA – I foi a primeira hidrelétrica subterrânea das Américas, sendo uma verdadeira escola para a incipiente engenharia brasileira”.


O grande pesquisador da história da hidroenergia no Brasil conclui afirmando: “Hoje registramos com muita satisfação e orgulho a participação dos pioneiros e seus discípulos na construção das grandes hidrelétricas do Brasil tais como: Itaipu, Tucuruí, Belo Monte e outras”.

Reservatório Delmiro Gouveia, em construção para alimentar a Usina PA-1

Construção das ensecadeiras para o fechamento do rio São Francisco, o que só aconteceu em outubro de 1954.

De fato, uma data com esta, em outros tempos seria motivo de grandes festejos, de intensa programação festiva principalmente em Paulo Afonso, berço da Chesf ainda no final da década de 1940, e em todos os Estados nordestinos onde a chegada da “luz de Paulo Afonso” mudou radicalmente a forma de vida desses brasileiros sempre tratados como raça inferior, infelizmente.

O evento me fez lembrar de outra matéria que fiz sobre a importância da Chesf para todo o Nordeste brasileiro e agora, com a interligação das linhas do sistema elétrico, para todo o Brasil.

Nele, eu comentava o depoimento de um grande engenheiro da Chesf, escritor, para o Jornal do Commércio do Recife. Ali, ele, há alguns anos atrás, ainda emocionado disse da sua alegria de dar de presente à sua mãe o primeiro liquidificador, com a chegada da energia elétrica de Paulo Afonso e logo, encomendou uma geladeira e teve que ficar na fila de espera porque a corrida para a compra de eletrodomésticos foi intensa...

Complexo hidrelétrico de Paulo Afonso. Em primeiro plano a Usina PA-4. Ao centro as Usinas Paulo Afonso 1, 2 e 3 e ao fundo, à esquerda, a Usina Apolônio Sales.

Tenho a alegria de, um pouco menos, bem menos que o Dr. Luiz Fernando Motta, ter vivido grande parte da história da Chesf, pois cheguei em Paulo Afonso em 20 de novembro de 1954, menos de dois meses antes desta inauguração histórica e, no mesmo mês de janeiro de 1955, quando aconteceu essa grande festa da inauguração da 1º Usina, meu pai começava a trabalhar na Chesf, como gari. Anos depois também eu e meu irmão fomos chesfianos, com todo orgulho. Meu irmão, ficou pouco tempo e eu trabalhei na Chesf por exatos 36 anos e seis meses.

O aniversário dos 67 anos da inauguração da Usina Paulo Afonso I acontece no período em que as muitas chuvas em Minas Gerais e no Sul da Bahia promovem grande cheia do rio São Francisco e as cachoeiras de Paulo Afonso, que estavam sem águas desde o ano de 2010 voltam a assanhar os nordestinos, brasileiros e estrangeiros para vê-la grandiosa em sua majestosa imponência que motivou até o Imperador D. Pedro II a mover-se da corte, no Rio de Janeiro para visita-la, em 20 de outubro de 1859, e lamentar que dela só pôde fazer “desenhos imperfeitos”.

Lamentavelmente, no dia, na semana, no mês do aniversário da I Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso as visitas às belas cachoeiras estão bem controladas com redução de público, por decisão da Chesf que procura justificar essa limitação de público aos problemas da pandemia cujos casos, infelizmente têm aumentado muito nos últimos dias.

Mesmo sem o anúncio de grandes comemorações desta data, registramos esse evento como da maior importância e reafirmamos o que temos dito em outros artigos e em livros sobre a região.

O Nordeste brasileiro tem a sua história claramente dividida em dois grandes capítulos. O primeiro é o do Nordeste miserável, sem desenvolvimento, sem perspectivas de futuro, sem energia elétrica. Este era o Nordeste A/C – Antes da Chesf. O segundo capítulo é o Nordeste D/C – de Depois da Chesf. Uma região rica, pujante de grandes investimentos e de desenvolvimento que tem superado as expectativas mais otimistas. E tudo começou com a implantação da maior empresa da região, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – Chesf.

Complexo hidrelétrico de Paulo Afonso. Usinas Paulo Afonso 1, 2 e 3

Complexo hidrelétrico de Paulo Afonso. Usina Hidrelétrica de Xingó, a maior do complexo Chesf, entre Sergipe (Canindé do São Francisco) e Alagoas (Piranhas)

Foi muito feliz o nordestino de Exu/PE, Luiz Gonzaga e o médico Zé Dantas, de Carnaíba também no Estado de Pernambuco, ao criarem a música Paulo Afonso para homenagear a grande empresa que inaugurava a sua primeira Usina naquele ano de 1955.

Delmiro deu a ideia
Apolônio aproveitou
Getúlio fez o decreto
E Dutra realizou
O presidente Café
A usina inaugurou
E graças a esse feito
De homens que têm valor
Meu Paulo Afonso foi sonho
Que já se concretizou

Olhando pra Paulo Afonso
Eu louvo nosso engenheiro
Louvo o nosso cassaco
Caboclo bom, verdadeiro
Oi! Vejo o Nordeste
Erguendo a bandeira
De ordem e progresso
A nação brasileira
Vejo a indústria gerando riqueza
Findando a seca
Salvando a pobreza

Ouco a usina feliz mensageira
Dizendo na força da cachoeira
O Brasil vai, o Brasil vai
O Brasil vai, o Brasil vai
Vai, vai, vai, vai, vai, vai

Operários da Chesf, os "cassacos", abrindo túneis no paredão de granito para a instalação da 1ª Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso, a oitenta metros de profundidade.

A história da inauguração daquela usina, que só estava sendo inaugurada pela garra do trabalho dos nordestinos, os “cassacos” que abriram túneis para instalar as máquinas geradoras de energia hidrelétricas a mais de 80 metros dentro dos enormes paredões de granito.

Torre da Chesf ao pôr-do-sol em Paulo Afonso-BA.

Apolônio Jorge de Farias Sales, na Cachoeira de Paulo Afonso. Engenheiro agrônomo, Ministro da Agricultura do Presidente Vargas, criador da Chesf e seu presidente por 12 anos.

E tudo começou 10 anos, quando o visionário Apolônio Jorge de Farias Sales, nordestino de Altinho/PE, Engenheiro Agrônomo, Ministro da Agricultura do Presidente Getúlio Vargas levou para o presidente assinar os Decretos-Leis Nºs. 8.031, criando a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – CHESF e 8.032, disponibilizando recursos do tesouro nacional para as obras desta empresa.

De fato, a ideia original do aproveitamento da força das águas da Cachoeira de Paulo Afonso para gerar energia hidroelétrica é de Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, cearense de Ipu, que criou, na margem alagoana do rio São Francisco, junto à Cachoeira de Paulo Afonso, a sua Usina Angiquinho, inaugurada em 1913.

32 anos depois, Apolônio Jorge de Farias Sales levou a mesma ideia de Delmiro Gouveia, muitas vezes ampliada, para criar a Chesf.

Os Decretos-Leis levados por Apolônio Sales foram assinados pelo presidente Getúlio Vargas no dia 3 de outubro de 1945 mas, no dia 29 de outubro daquele ano, o Presidente Getúlio Vargas foi deposto. Em Dezembro, o General Eurico Gaspar Dutra é eleito de forma indireta e os decretos de criação da Chesf ficaram nas gavetas do governo.

Presidente Eurico Gaspar Dutra e grande comitiva em visita à Cachoeira de Paulo Afonso (matéria de O CRUZEIRO de 12/07/1947)

Pouco menos de dois anos depois da assinatura desses Decretos-Leis, em julho de 1947, o Presidente Dutra e grande comitiva, ministros, militares, governadores, visitam a Cachoeira de Paulo Afonso e a visita merece a cobertura jornalística de várias páginas pela revista O CRUZEIRO. 

Primeira diretoria da Chesf, em 15 de março de 1948. A partir da esquerda: Engenheiro Adozindo Magalhães de Oliveira - Diretor Administrativo; Carlos Berenhauser Júnior - Diretor Comercial; Antônio José Alves de Souza - Presidente e Octávio Marcondes Ferraz - Diretor Técnico.

Oito meses depois, em 15 de março de 1948, o Presidente Dutra nomeia e empossa a primeira diretoria da Chesf formada pelos engenheiros Antônio José Alves de Souza – Presidente; Adozindo Magalhães de Oliveira – Diretor Administrativo; Octávio Marcondes Ferraz – Diretor Técnico e Carlos Berenhauser Júnior – Diretor Comercial.

Em 15 de janeiro de 1955 era inaugurada a Usina Paulo Afonso I, a primeira de cinco outras grandes usinas instaladas em Paulo Afonso e outras duas grandes na região e outras em outras mais mudando toda a história do Nordeste.

O começo de tudo, o início da redenção tem data inesquecível: 15 de janeiro de 1955, há 67 anos, com a inauguração da Usina PA I.

Diretor Técnico da Chesf, Octávio Marcondes Ferraz, ao centro, de branco, com capacete, engenheiros e operários da Chesf, em frente da entrada a Usina de Paulo Afonso


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